Marinaleda

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RESIGNAR-SE, NUNCA!

domingo, 2 de fevereiro de 2014

A federalização dos tribunais de contas



Várias propostas para diminuir a competência dos Tribunais de Contas, bem como, até mesmo, a extinção desses órgãos, já foram, e são, objeto de PECs.

Lembro-me de duas grandes reportagens, sobre escândalos e sobre os bastidores “da massa cheirosa” dos TCs, que se movimentam por debaixo do pano. Uma realizada pela revista Veja, e outra pela Revista Época, as quais foram objetos de muito ba-fa-fá e fez parte da grade da programação, durante muito tempo, da “rádio corredor”, no Tribunal onde trabalho.

Umas das denúncias mais graves, tirando o filtro político dos julgamentos, foi o envolvimento de conselheiros em crimes comuns, entre eles, tráfico de drogas e corrupção passiva.

Todas as propostas para moralizar os tribunais de contas, sejam federal, estaduais e municipais, sempre causam um grande debate e encontram uma grande resistência, natural, ou não, da família tribunal de contas.

A Argentina, no governo Menem, extinguiu os seus tribunais de contas; deixando esta competência para empresas privadas a serem contratadas pelos entes públicos sujeitos a prestação de contas.

- Eu contrato e pago quem vai dizer se sou ou não honesto. Uma belezoca!
A medida foi um fracasso retumbante, como, logicamente, já era esperado. Os custos das auditorias aumentaram e os problemas encontrados nas fiscalizações diminuíram, e muito. Resultado, a extinção foi cassada, e os tribunais de contas voltaram a realizar as fiscalizações e as auditorias determinadas pela constituição argentina. E vejam bem, num governo totalmente submisso ao consenso de Washington.

A extinção pura e simples dos tribunais de contas, com certeza é uma medida que de forma alguma ajudará ao combate da corrupção no país, ao contrário.
Mas, quais seriam as soluções intermediárias?

Escândalo recente. Um escândalo, recentemente, ajudou a melar ainda mais a imagem dos TCs em todo o país. Foi o escândalo do auxílio moradia. O Judiciário, outra caixa preta, encontrou uma brecha na lei e passou a conceder o auxílio moradia a quem não tinha direito, inclusive de forma retroativa, quanto aos valores dos últimos cinco anos.

Isto é, a coisa pode até ter sido legal, do que duvido, mas é, escandalosamente, imoral.

O auxílio moradia é concedido ao servidor público, às vezes, apenas, aos funcionários públicos, que exercem as suas atividades funcionais foram da cidade da sede do órgão.

O TCs foram na onda, e se concederam o benefício. Reajustaram, de forma irregular, os seus valores nos últimos cinco anos, e se beneficiaram dos mesmos. Estes valore à época, ano de 2010, ficaram na casa de R$500.000,00 a R$1.000.000,00. Para que fique claro ao leitor, estes valores dizem respeito, apenas, aos retroativos.

Não só Conselheiros receberam tais valores, mas também Auditores Substitutos e Procuradores do MPCO. O MPCO é uma aberração jurídica, mas este assunto fica para um outro artigo. Vi pouquíssimas manifestações sobre esses escândalos, mas, nem o Ministério Público, nem a OAB, nem a Liga de Dominó de Casa Amarela, etc., se pronunciaram.

Foram valores graúdos. Mas, ninguém cometeu o desatino de comprar uma tapioca de R$8,00, pois aí sim, o escândalo seria notícia.

Corrupção versus sonegação. Os valores envolvendo a sonegação fiscal no Brasil é de 28 vezes maior do que os valores envolvidos com corrupção. Uma proposta seria a incorporação dos tribunais de contas aos órgãos, de sua esfera federativa, que combatem a sonegação fiscal.

Quem corrompe é quem sonega. É lógico que a sonegação envolve valores maiores, pois, assim, sob a ótica do mercado, não valeria apenas corromper.  Investigando os sonegadores, fácil e certamente se chegariam aos corruptores, este é o caminho das pedras, o caminho mais lógico.  Ao invés de se ter custos com fiscalizações separadas, corrupção e sonegação, seriam, ambos, o objeto de uma única força tarefa para descobrir o caminho do desvio do dinheiro público.

Federalização. A mesma proposta, mas, contudo, diferente da anterior, todos os TCs, federal, estaduais e municipais seriam incorporados a União. Evitando, assim, influências políticas locais.

Outra possibilidade, que não resolveria de todo o problema, mas, com certeza o minimizaria. Seria a criação um “CNJ” dos Tribunais de Contas, o CNTC, órgão fiscalizador dos tribunais de contas, e, totalmente independente dos mesmos, dos fiscalizados.

Os TCs seriam avaliados sobre diversos aspectos, dentre eles, efetividade, eficiência, transparência, moralidade, economicidade, retorno dos valores desviados, recuperação destes valores e, principalmente, em relação aos julgamentos, quando da famosa “aprovação das contas com ressalvas”, possibilidade que deveria ser extinta, pois promove verdadeiros absurdos.

Uma terceira opção, que não vislumbro como boa, e que na verdade deixaria tudo como está hoje, ou pior, seria a absorção dos quadros dos TCs pelos parlamentos, federal, estaduais ou municipais. Os TCs só mudariam de “chefes”, mas as auditorias continuariam a ter um grande filtro político, ou melhor, o grande filtro político seria ampliado para um gigante filtro político.

Fontes:


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